Se tem algo de que a Globo jamais poderá ser acusada é de desperdiçar oportunidades. Diante do sucesso do BBB 21 – se você, em pleno 2021, ainda tem esse discurso sonolento de que não assiste Big Brother, por qualquer razão que seja, saiba que todo mundo te acha chato – e do ‘cancelamento’ estrondoso da cantora Karol Conká, a emissora foi ágil e, seguindo o padrão de qualidade de suas produções, lançou, ainda antes da final do reality show, a série ‘A Vida Depois do Tombo’.
Em quatro episódios rápidos e com ritmo envolvente (você assiste a série toda no Globoplay em 2 horas), a rapper de Curitiba se permite mostrar como foram os dias posteriores à sua eliminação, que bateu recorde de todas as edições da história do Big Brother no mundo (99,17%).
Antes de mais nada: Karol Conká é, talvez, a pessoa mais corajosa do meio artístico deste país. Não importam as motivações da cantora (salvar a carreira, talvez) e importa menos ainda se eu ou se você gostamos dela, pessoal ou profissionalmente.
O que Karol Conká aceitou expor é para poucos. Para quase ninguém, principalmente sendo uma artista. ‘A Vida Depois do Tombo’ é muito mais do que uma ‘cobertura’ dos dias pós-eliminação daquela ‘personagem’ ardilosa que todo o Brasil amou odiar. A série poderia se chamar ‘A vida que levou ao tombo’. Cada episódio mostra quem é Karoline dos Santos Oliveira, como ela se tornou Karol Conká e quais dores enfrentou (nem preciso comentar sobre o que significa ser uma mulher negra no nosso país e, ainda hoje, ser chamada de ‘macaca’) – e, claro, causou.
Veja, aqui não pretendo diminuir os erros da rapper no BBB. Karol errou como poucos, foi cruel, desumana, fria, manipuladora e mentirosa, sim. Mas, se dispôs a pedir perdão. Muitas vezes. Em rede nacional. E mesmo que, em alguns momentos, imaginemos que ela está ‘brifada’ – como, de fato, esteve, de acordo com uma reunião exibida no próprio seriado – é possível sentir, quase que na própria pele, a dor da cantora e o arrependimento que ela tem vivido.
Se você acha que foi fácil para ela participar deste ‘projeto’, te convido a entrar em uma sala com inúmeros telões exibindo para todo o Brasil cada cena da sua vida em que você falhou, errou, acusou, agrediu, julgou, foi cruel (se me disser ‘ah, mas eu nunca errei assim’ eu vou rir da sua cara, ok?). Mais do que isso, te convido a ser julgado pelo tribunal da internet por essas mesmas atitudes. Seria uma experiência agradável?
Como muito bem dito por Tiago Leifert no discurso de eliminação de Karol Conká, quando ela entra é pra tombar.